domingo, 6 de outubro de 2013

Pont'a Pé - do percebe da falésia à batata doce da várzea


Também nós temos uma “terra” ‘a que chamamos nossa em cada verão. Há mais de dez anos a rumar para o sul, temos sempre como destino a costa vicentina.

Conhecido pelas maravilhosas praias, natureza, tranquilidade e gastronomia, é procurada por gentes de todas as nacionalidades para a prática do surf e do campismo à beira da falésia, quer seja em autocaravanas ou nos míticos Volkswagen  “pão de forma”.

Lugar cativo nas falésias têm os pescadores e mariscadores locais, que com grande bravura trazem para as nossas mesas verdadeiras iguarias que gostamos de saborear no Restaurante Pont’a Pé, onde somos sempre bem recebidos pelo Milton e a sua equipa.

Com localização privilegiada no centro de Aljezur junto à ponte velha que nos leva ao mercado, encontra-se o melhor restante desta terra. E dizemo-lo com conhecimento de causa, porque já experimentámos todos os outros.

A aventura começa quando nos sentamos à mesa. O menu não é entregue a nenhum cliente sem antes ter sido feita uma descrição pormenorizada dos pratos do dia., que variam com regularidade. Para além destas há os pratos fixos da carta e peixe fresco para grelhar.

É da praxe iniciar a refeição com percebes, mas este ano também quisemos experimentar o lingueirão.  Teríamos ficado toda a noite de volta dos bichos e do molho e do cesto do pão, não fosse o que ainda estava para vir.

Bacalhau frito, cebolada, azeite e forno para finalizar. Posta alta com generosa camada de polme, que logo na primeira garfada se desfaz em lascas. Imperdível.

A seguir sardinhas, bem gordinhas, devidamente acompanhadas por uma salada algarvia.

De sobremesa, uma fatia de pudim de batata doce. E para rebater, um cálice de aguardente de medronho e outro de ginja, para os que não têm pelos no peito, gentilmente oferecidos pelo dono da casa.

Cozinhar tão bem e de forma tão despretensiosa obriga-nos a cometer o pecado da gula, pelo qual somos terrivelmente castigados ao sermos privados destas iguarias durante os restantes onze meses do ano.

Bem haja, Milton!

PS: Infelizmente, não registámos do valor desta refeição mas, por regra, um almoço no Pont’a Pé  ronda os 15€ por pessoa.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Tomo - O melhor sushi de Lisboa


É sempre um risco afirmações absolutas como as do título desta entrada mas desde que o saudoso Aya fechou as portas o Tomo tem sido o nosso destino de romagem quando as saudades da cozinha do mestre Tomoiaki Kanazawa já não são disfarçadas pelos outros sushis – bons mas menos - que nos servem pela cidade.

Mas o título peca por defeito já que o mestre Kanazawa, antigo chef da embaixada nipónica em Lisboa,  não se limita a servir sushi mas também outros pratos de deliciosa comida tradicional japonesa dificilmente encontrados em outros restaurantes de Lisboa. É tanto assim que com frequência encontrarmos a sala quase cheia de turistas japoneses que se desviam da beaten track para aqui matarem as saudades gastronómicas.

Ao almoço existem menus pré definidos, a um preço mais convidativo. Uma escolha sempre acertada é o menu sushi, uma selecção de peixe irrepreensível que habitualmente inclui torô, a mais gorda e deliciosa parte do atum. O outro prato eleito, desta vez da carta, foi Maguro Tataki , o atum braseado, bem acompanhado por molho de miso e alho francês.  


O Tomo oferece sempre umas pequenas entradas que vão variando ao sabor da inspiração do mestre Kanazawa. Desta vez tocou-nos um preparado de atum e uma pasta de peixe branco.

A refeição descrita, cafés e chás ficou-nos por 44,80. Vale cada cêntimo.

Um último conselho:  A carta é bastante completa e cheia de razões para visitar o Tomo, mas vale a pena ignorá-la e simplesmente deixarmo-nos guiar pelas sugestões da equipa. Há sempre uma boa surpresa à nossa espera.

terça-feira, 6 de agosto de 2013

O Melhor - O petisco ao Possolo


Campo de Ourique gostar de chamar a si tudo o há de melhor.  O tão afamado “melhor bolo de chocolate do mundo”, o “melhor pastel de nata de Lisboa”, “as melhores lojas de tecidos”, “o melhor bairro para viver”.

Depois há os restaurantes. Uns muito conhecidos, com chef’s de renome, e outros mais modestos, com cozinheiros(as) que ninguém conhece, mas que fazem as delícias de quem lá come. É o caso do restaurante “O Melhor”, que não nos cansamos de visitar.

Aqui não há guardanapos de pano, copos brilhantes e pratos imaculados. Aqui encontra -se um ambiente descontraído onde se levam amigos ou família para conversar e petiscar durante horas entre caracóis, caracoletas assadas (com molho picante porque é o melhor), pica-pau de vaca, de porco ou misto, moelas com fígados ou sem eles, bem fritinhos, pregos, entre outros. Estas frituras são devidamente acompanhadas por outras, em forma de palito, que de tão boas que são até se comem frias.

Os mariscos, apesar de constarem da lista, raramente se encontram, mas sempre que há, não deixamos escapar as amêijoas.

O vinho da casa, em jarro, não convence os grandes apreciadores, mas cumpre os requisitos necessários para garantir grande animação.

Sendo um espaço muito procurado por grupos torna-se, por vezes, um pouco desagradável pelo fumo (é permitido fumar no restaurante) e pelo decibéis das conversas que trepam na mesma medida que o álcool.

O estacionamento não é fácil, mas nada que umas voltas ao quarteirão ou uma caminhada não resolvam.

Na Rua do Possolo, simplesmente, “O Melhor”.

terça-feira, 30 de julho de 2013

Umai Chiado - A Ásia em Lisboa


A Ásia é um bocado de terra que começa em Istambul e se estende até ao Japão, o país onde o sol nasce. Como se calcula, não é fácil nem barato conhecer o continente asiático, o mais extenso à face da Terra. Mas basta ir ao número 78 da Rua da Misericórdia para pelo menos conhecer os seus paladares graças ao Chef Paulo Morais - o equivalente moderno e gastronómico de Fernão Mendes Pinto - que por lá peregrinou, aprendeu os ensinamentos dessas terras distantes e voltou decidido a missionar-nos no gosto pelos sabores orientais. E nós já nos convertemos há muito.

Mais concretamente, seguimo-lo assiduamente desde os tempos do QB em Oeiras e mantemos essa perseguição nos Umais: O Izakaya do Umai e o Umai do Chiado, os mais recentes projectos do Paulo e da Anna Lins.

Mas vamos ao que interessa. O nosso último almoço no Umai do Chiado começou por dois pratos incontornáveis: a espuma de caril com vieiras (acompanhadas pela crocante cebola frita) e as cornucópias de sésamo com caranguejo real e molho yuzu. Obrigatório.

De seguida dividimos um menu Umai, que varia diariamente, composto por quatro pratos dos quais guardamos especial memória dos baozis com caril de porco e das guiozas de alperce.

Para beber escolhemos dois magníficos chás: o de jasmim com flores e o verde, com pipoca de arroz.

Tudo ficou-nos por pouco menos de 20 € por pessoa, montante que nem um táxi paga em Tóquio, por exemplo.

Todos os pratos com uma apresentação cuidada mas elegantemente despretensiosa, a combinar com a decoração do espaço.  Já agora, parece que umai é uma expressão japonesa usada informalmente quando queremos dizer que a comida nos sabe bem. Poucos restaurantes lisboetas se poderão gabar de ter um nome tão apropriado. 


sexta-feira, 26 de julho de 2013

de Castro Elias – Do cachaço de bacalhau e outras iguarias



Conseguem imaginar uma espécie de patanisca bem redondinha, fofa e enxuta, e em que finas lascas de bacalhau se desfazem na boca? O Chef Miguel Castro Silva, do Restaurante de Castro Elias, chamou-lhe Iscas do Cachaço de Bacalhau. Na verdade, não lhes poderia chamar outra coisa: as pataniscas preparam-se desfiando o fiel amigo e misturando no polme, enquanto as iscas são lascas de bacalhau passadas por polme e fritas.  Nós chamámos-lhes um figo.

Este foi um dos quatro pratos para picar que não seleccionámos da lista: limitámo-nos a fazer eco do pedido da senhora da mesa lado, habitué da casa, tal o entusiasmo, justificadíssimo, com que o recomendava à sua comensal.

Já ao comando da carta, quisemos manter-nos na primeira metade da lista - os ditos pratos para picar -, experimentando um peixe novo para nós, a Cavala fumada com escabeche de cebola. Um belo filete da dita com uma colherada de cebola que nos deixa em lágrimas quando acaba, pela vontade que nós dá de continuar a comê-la.

Mais conservador nas investidas gastronómicas, o meu parceiro fez uma aposta segura nos Ovos de Codorniz com Chouriço. Nunca falha.

Terminámos com uma Açorda com Cogumelos e Enchidos. Mesmo os que não apreciam esta forma de comer o pão ficariam rendidos à mistura de sabores entre cogumelos frescos e enchidos bem picadinhos.

Um apontamento para as bebidas. A água está sempre disponível em todas as mesas numa elegante e personalizada garrafa com a inscrição do nome do restaurante. Para os que não têm receio de beber ao almoço, o vinho a copo é uma excelente opção. No caso, um bem sugerido Quinta da Lagoalva tinto, meio encorpado e algo doce, um parceiro à altura dos pratos experimentados.

O espaço não é grande,  o que o torna mais acolhedor, com decoração despojada e moderna. O atendimento é cordial e afável.

Couvert composto por pão fatiado e uma deliciosa pasta de azeitona preta, quatro pratos para picar, um copo de vinho e água fica em média por 14€. Para estômagos que careçam de maior ocupação, não provámos mas recomendaram-nos, as amêijoas com feijão manteiga e a tiborna de bacalhau. Fica para a próxima!